UFC: Thiago Marreta conta os bastidores da recuperação após quase vencer Jones mesmo 'sem joelhos'

2022-04-19 09:20:51 By : Mr. CHANGGUI YU

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Mundo do brasileiro virou de cabeça para baixo após quase vencer Jon Jones e levar o cinturão dos meio-pesados (2:40)

Enfrentar Jon Jones é um dos maiores desafios que qualquer lutador pode ter. Mas precisar fazer isso praticamente sem joelhos e ainda quase sair com a vitória é praticamente um ato de heroísmo.

No dia 6 de julho de 2019, Thiago Marreta machucou a perna esquerda logo no primeiro round. Mesmo assim, seguiu lutando e ainda deu mais 20 chutes de canhota. A incrível força de vontade quase lhe deu a vitória diante de Jon Jones, mas também acabou lhe rendendo as piores lesões de sua carreira.

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O diagnóstico assustaria qualquer atleta: ambos os joelhos precisavam de cirurgia.

O esquerdo teve um rompimento total do ligamento cruzado anterior, rompimentos parciais no ligamento colateral medial e também no menisco e ainda uma fratura na tíbia. O direito acabou com uma lesão no menisco.

“Eu achei que era o fim. Achei que não ia mais lutar não”, admite Marreta em conversa com o ESPN.com.br.

Brasileiro teve que operar os dois joelhos após quase vencer Jon Jones e volta a lutar 1 ano e quatro meses depois

“Pô, vou operar os dois joelhos e não vou voltar mais ao normal. Eu fiquei com isso na cabeça. O médico na mesma hora falou que eu não era nem o primeiro e nem seria o último lutador que ia passar por isso, que vários já tinham voltado a lutar 100% e seria o mesmo comigo. Mas eu nunca tinha passado por isso, né? É diferente quando acontece com você. Sinceramente, quando vi aqui ali, eu falei: ‘Cara, não tem como eu voltar ao normal como eu lutava. Isso é impossível’”, completa.

A cirurgia aconteceu em 18 de julho, exatamente 12 dias depois da luta. E para além da incerteza psicológica, a dor física também seria uma “companheira” de Marreta pelos próximos meses, mas apareceria em especial justamente no começo da recuperação.

Depois de 4 horas e meia de cirurgia terminou e deu tudo certo, agora vou focar na minha recuperação para voltar o quanto antes. Sempre grato à Deus e obrigado a todos vocês pela energia positiva e pelo carinho. Tmj 🙏🏾👊🏽 . " after 4 hours of surgery, the drs say everything is fixed! Now my focus is on a full recovery so I can get back in there better and stronger!"

Uma publicação compartilhada por Thiago "Marreta" Santos (@tmarretamma) em 17 de Jul, 2019 às 10:24 PDT

“Eu achava que doía bastante antes da cirurgia. Mas depois eu vi o que era dor de verdade. A primeira semana foi horrível, não conseguia dormir de dor. Tomava bastante remédio, mas mesmo assim a dor era sinistra! Muito forte, muito mesmo! Não conseguia dormir direito”, conta.

“Muitas pessoas não conseguem ver as dificuldades no primeiro dia após uma cirurgia. O atleta é enviado para casa com medicamentos e instruído a iniciar a fisioterapia em alguns dias ou semanas. Mas quando você chega em casa, muitas vezes você ainda está em um ’bloqueio nervoso’. Então, o que acontece quando isso passa e você agora está sentado em um hotel ou em sua casa sozinho? É quando a incerteza e a dor começam a aparecer”, explica Heather Linden, a chefe de fisioterapia do Instituto de Performance.

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“Foi muito difícil porque ele pensou que talvez nunca mais fosse se recuperar. E eu entendo, porque alguns médicos não tinham certeza de que a recuperação estava indo bem, e ele colocou isso na cabeça. A primeira semana foi muito difícil, ele não conseguia se mexer, estava com muita dor. A gente tinha que ir para o Instituto do UFC todos os dias duas vezes e era muito complicado. Foi muito difícil”, lembra a namorada Yana Kunitskaya.

A russa, aliás, seria peça-chave na recuperação. Os dois haviam se conhecido um ano antes, mas tinham sofrido para se comunicar. Mantiveram o contato à distância e transformaram a amizade em um namoro quando se reencontraram.

“A Yana foi uma coisa boa em um período difícil da minha vida. Tudo tem um porquê, se eu não tivesse sofrido a lesão, teria voltado para o Brasil logo depois da luta. Tive que ficar lá mais dois meses e ela foi fundamental, ela que ficou me ajudando, cuidando de mim. Ela morava lá em Las Vegas, ia fazer camp por lá, e disse que estava por lá, que me ajudava no que eu precisasse”, conta Thiago.

Happy Valentine's Day ⚒🦊❤️ Feliz dia dos Namorados @yanamma

Uma publicação compartilhada por Thiago "Marreta" Santos (@tmarretamma) em 12 de Jun, 2020 às 9:33 PDT

Marreta também já tinha boa relação com Heather Linden. Quando lutava em Las Vegas, o brasileiro costumava fazer a parte final de suas preparações no Instituto de Performance, e confiava muito no trabalho dela.

“A primeira conversa com ele foi difícil. É difícil quando você tem um atleta com muitas dores e se questionando se conseguirá voltar ao esporte”, lembra Heather.

“Thiago tinha muitas dúvidas e preocupações sobre o retorno ao esporte. Sei que se fala muito que os atletas nunca voltam os mesmos, mas acho que os atletas não voltam os mesmos se não fizerem uma boa reabilitação e não colocarem o tempo de esforço necessário em sua reabilitação. Eu sabia que com Thiago isso não seria um problema. Sabia o quão motivado e trabalhador ele era. Durante toda a nossa reabilitação, tentei ser muito positiva e mostrar como ele estava bem e o progresso que ele fazia todos os dias. Agora também temos psicologia do esporte à bordo, então eles têm sido uma influência positiva para nossos atletas em reabilitação”, completa.

Heather ajudou Thiago de todas as formas que pôde. Para além das consultas e tratamentos, chegou a servir como “motorista”. No começo, era ela quem buscava Thiago par as sessões de fisioterapia, tentando driblar as limitações que Yana recordou.

Everything has a reason! I just want to say thank you so much for everything, you are amazing, God put you in my life, I will never forget. Tudo tem um motivo! Eu apenas quero dizer muito obrigado por tudo, vocês são incríveis, Deus colocou vocês na minha vida, eu nunca vou esquecer.

Uma publicação compartilhada por Thiago "Marreta" Santos (@tmarretamma) em 13 de Set, 2019 às 8:03 PDT

“Ele estava hospedado em um hotel próximo ao Instituto, mas não conseguia dirigir ou tolerar ficar sentado no banco de trás de um Uber. Então resolvi ajudar a transportá-lo para a fisioterapia até que obtivéssemos a amplitude de movimento do joelho que ele precisava para aguentar ficar sentado. Por isso, as fotos de suas muletas e ele com joelheiras sentado na parte de trás do meu carro”, lembra.

Aos poucos, porém, as coisas foram acontecendo. A evolução demorou, mas coisas simples mostravam que o caminho estava certo.

“Me lembro de um momento em que ele começou a andar sem muletas, e eu fiquei tipo ‘meu Deus, ele está caminhando!’. Era uma coisa simples, mas que se tornou grande. Ele se movendo sem muletas foi mágico”, relembra Yana.

“Cada coisa que você vai voltando a fazer vai te dando mais esperança. Voltar a andar, subir escada, os chutes... Cada coisa vai criando mais alegria, ânimo, motivação e vai vendo que, com o passar do tempo, tudo vai voltando ao normal”, conta Thiago.

Uma publicação compartilhada por Thiago "Marreta" Santos (@tmarretamma) em 30 de Ago, 2019 às 5:24 PDT

Quando conseguiu voltar a andar, Marreta retornou ao Brasil. Se encontrou com o médico Márcio Tannure e foi encaminhado a novos fisioterapeutas. Aos poucos, se recuperou a ponto de conseguir voltar a treinar, a voltar a chutar com as pernas que havia machucado. Em meio à pandemia, quis o destino que isso acontecesse “dentro de sua casa”, na academia que abriu na Cidade de Deus. E com a namorada Yana Kunitskaya, a companheira inseparável durante praticamente todo o período de recuperação.

Era impossível segurar as lágrimas.

“Quando comecei a dar os primeiros chutes, ela estava segurando a manopla para mim. Eu estava cheio de medo ainda, meus olhos chegaram a lacrimejar de emoção de estar fazendo aquilo de novo, de estar chutando. Dor, eu não senti. Foi mais medo, psicológico. Fiquei bem emocionado porque eu achava que não ia conseguir mais fazer aquilo”, relembra.

Brasileiro teve que operar os dois joelhos após luta contra Jon Jones e agora volta para enfrentar Glover Teixeira

O tão sonhado retorno aos octógonos deveria acontecer no dia 12 de setembro, mas o rival Glover Teixeira acabou testando positivo para a COVID-19. A luta foi remarcada para 4 de outubro, mas aí foi a vez de Thiago pegar o novo coronavírus.

Assim, a volta ganhou a data de 7 de novembro. Um ano, quatro meses e um dia após a luta contra Jon Jones.

“Fisicamente já estou me sentindo 100%. Tenho feito tudo nos treinos: sparring, chutando forte, joelhada... tudo normal! Mas estou há muito tempo sem lutar, não sei como vai estar minha cabeça, minha adrenalina”, diz Thiago.

“Mas eu tenho um pressentimento que vai dar tudo certo. Vou estar bem feliz, fazendo o que eu amo e vai dar tudo certo”, complementa.

You never know what's gonna happen, just do your best, and never give up. I did my best, I didn't give up and I will be back soon. 🙏🏾👊🏽 . 🇧🇷 Voce nunca sabe o que vai acontecer, apenas de o seu melhor, e nunca desista. Eu dei meu melhor, eu não desisti e eu voltarei em breve. 🙏🏾👊🏽 . 🎥 @reinaldofreitasbr

Uma publicação compartilhada por Thiago "Marreta" Santos (@tmarretamma) em 30 de Jul, 2020 às 1:37 PDT