Espregueira-Mendes: ″Estado tem de financiar o doente, não as instituições″

2022-09-10 02:17:40 By : Ms. Tracy Gu

É um dos mais conceituados cirurgiões ortopédicos do mundo e vai investir numa rede de clínicas e em unidades móveis, em Portugal. Em 2024, internacionaliza para Espanha. São 50 milhões de investimento, em parceria com a Growth Partners Capital e a Unilabs

Foram precisos mais de 30 anos para tornar Portugal um centro de referência mundial na medicina e traumatologia desportiva, mas hoje João Espregueira-Mendes é um dos mais conceituados e reconhecidos cirurgiões ortopédicos do mundo. Pelo caminho conseguiu acumular uma série de certificações internacionais para a Clínica do Dragão, a mais recente das quais é a acreditação pela FIFA como Centro Médico de Excelência, e que agora quer colocar ao serviço da medicina de proximidade, fazendo chegar as valências da clínica portuense ao resto do país e, a seguir, a Espanha, com a abertura de um rede de clínicas temáticas, num investimento total de 50 milhões. A marca será precisamente Clínica Espregueira - FIFA Medical Centre of Excellence.

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Metade do valor será aplicado, até 2023, na abertura de três clínicas em Portugal e em oito unidades móveis que permitirão cobrir 40 cidades de norte a sul do país. Terá, então, mais do que triplicado o número de colaboradores, para 600 pessoas, e a faturação, que estima será de 25 milhões em 2024.

A intenção é replicar o modelo em Espanha, a partir de 2024, o que fará elevar, prevê, o número de colaboradores para mais de mil. Tudo em colaboração com a Growth Partners Capital e a Unilabs, o parceiro da Clínica do Dragão ao nível da imagiologia, das análises clínicas e da cardiologia. O volume de negócios esperado não indica, para já, sublinhando que o plano de negócios para Espanha não está ainda definido.

"O plano português está muito bem gizado, muito amadurecido, em Espanha ainda está muito em aberto. Claro que não se pode fazer um projeto destes em Espanha sem estar em Barcelona e em Madrid, mas o resto vai depender muito do nosso sucesso com os parceiros locais. Eu acredito que é preciso um diretor clínico de grande prestígio no local para poder fazer vingar este projeto", explicou ao Dinheiro Vivo João Espregueira-Mendes, que seguiu os passos do avô e do pai, tornando-se na terceira geração da família a dedicar-se à ortopedia.

Em Portugal, os parceiros e diretores clínicos para cada uma das novas unidades estão já definidos. Em Espanha, esse trabalho está ainda a começar. O prestígio internacional que Espregueira-Mendes conquistou - é o único português que presidiu à Sociedade Europeia de Traumatologia Desportiva (ESSKA), de 2012 a 2014, e o único a nível mundial a acumular, no currículo, também a presidência da sociedade mundial, para a qual foi eleito nesta semana - facilita a tarefa, já que conhece quem são os parceiros de que precisa.

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Espregueira-Mendes acompanha atletas de alta competição de todo o mundo - João Félix e Pepe são apenas alguns exemplos que já passaram pela clínica -, mas é no cidadão anónimo que tem os seus principais clientes, em duas vertentes principais: os praticantes de exercício físico e que se lesionam, e os seniores, já que o aumento da esperança de vida trouxe aos problemas articulares um relevo importante. "As despesas relacionadas com a degeneração articular representam já a maior despesa de saúde do mundo", garante.

Desde o início de 2020 que a primeira de oito unidades móveis do grupo tem percorrido as principais cidades a Norte para assegurar a medicina de proximidade

O plano de expansão é ambicioso: até 2024, a intenção é abrir três clínicas Espregueira em Portugal. A primeira das quais, em Lisboa, está já prevista para o final do próximo ano. A sua localização exata não é ainda divulgada, mas Espregueira-Mendes reconhece que, provavelmente, na capital, poderá vir a necessitar de abrir mais do que uma clínica, até porque muitos dos serviços que presta, como fisioterapia ou análises clínicas, são serviços de proximidade. Segue-se, em 2023, a abertura na região centro - tudo aponta que seja em Leiria, mas pode ser na Figueira da Foz -, e no Algarve. A capilaridade pelo território será dada por oito unidades móveis que irão, cada uma, cobrir cinco cidades, permanecendo um dia por semana em cada uma. "Vamos fazer medicina de proximidade, que é hoje uma necessidade imperiosa em todo o mundo. Levamos-lhes os tratamentos ortobiológicos, de última geração, que permitem evitar, ou pelo menos adiar significativamente, a necessidade de uma cirurgia, tratamentos que não estão facilmente disponíveis no interior do país", explica.

Mas as unidades móveis vão permitir, ainda, implementar um projeto inovador de consulta tripartida, com acesso a especialistas internacionais. "É uma consulta em que o médico assistente e o doente estão presentes, em consulta física, e, no ecrã de plasma, está, em vídeoconsulta, um super especialista na patologia em causa. Temos a trabalhar connosco o maior especialista do mundo nas lesões do tornozelo, o Niek van Dijk, que operou o Cristiano Ronaldo, o Pepe ou o João Félix, e esta é a única forma de levar a Vila Real ou a Beja a opinião de alguém tão prestigiado e conhecedor", explica Espregueira-Mendes.

Há que ter ainda em conta que a investigação faz parte do ADN da Clínica Espregueira: o grupo é líder na investigação osteoarticular em Portugal e tem inúmeras patentes registadas, designadamente pela invenção de um dispositivo único no mundo, o Porto Testing Device, um aparelho que possibilita diagnosticar as lesões ligamentares do joelho e tornozelo através de ressonância magnética, avaliando os resultados e o risco de lesão, ao mesmo tempo que mede a instabilidade e circunscreve os doentes que necessitam de cirurgia.

A primeira unidade móvel tem estado a ser testada, já há mais de um ano, com sucesso, prestando serviço em Aveiro, Águeda, Amarante, Chaves, Oliveira de Azeméis, Ponte de Lima, Viana do Castelo e Vila Real. Em fevereiro de 2022 chega a segunda unidade e a ideia é disponibilizar duas por ano até um total de oito em 2025.

Quanto ao custo destas consultas, Espregueira-Mendes lembra que a clínica tem protocolos com o SNS, a ADSE e "tudo quanto é seguro de saúde". Mas assume a expectativa que a situação possa vir a mudar. "Tenho uma grande esperança que o paradigma da saúde em Portugal venha a aproximar-se mais do paradigma europeu. Nos países evoluídos, um doente pode recorrer, com o seu cartão de cidadão, indiferenciadamente, a um serviço público ou privado. A maioria das vezes nem sabe o que é, nem lhe interessa. Paga os seus impostos, pode ir onde quer. Em Portugal existe um preconceito em relação a estes dois prestadores de serviços e o doente não pode escolher o seu médico nem decidir em que hospital ou clínica quer ser tratado. Mas isto vai mudar, não faz sentido que não mude. O Estado tem de financiar o doente, não as instituições".