″Onda″ de adeptos croatas semeou pânico na noite de Guimarães

2022-08-20 02:25:00 By : Mr. Charles He

Comerciantes queixam-se que a polícia só apareceu horas depois. Esta quarta-feira é visível o reforço do policiamento no local.

Um grupo de adeptos do Hajduk irrompeu, na terça-feira, por volta das 22.30 horas, pelo largo da Oliveira, no Centro Histórico de Guimarães, causando medo e pondo os clientes de bares e restaurantes em fuga. Os empregados dos estabelecimentos falam em cenas de pânico, com as pessoas a refugiarem-se dentro dos restaurantes e a fugirem para a praça contígua. Para a PSP foi "um pequeno incidente".

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"Houve uma família que ficou separada, a tia fugiu aqui para dentro e os sobrinhos correram para a praça de Santiago. A senhora estava desesperada porque não sabia das crianças", ilustra João, empregado no restaurante Buxa. João diz que "tudo aconteceu repentinamente, num momento estava tudo calmo, as pessoas a jantar e de repente surgiu aquela onda". Os funcionários do restaurante que estavam a servir às mesas dizem que o grupo entrou na praça da Oliveira vindo da rua da Rainha, "mas também, alguns, pela praça de Santiago".

"Só tivemos tempo de fugir para dentro e ajudar as pessoas mais frágeis a esconderem-se", relata. De acordo com estas testemunhas os adeptos não mostraram intenção de fazer mal às pessoas que estavam nas esplanadas. "Eles pensavam que iam encontrar aqui a claque do Vitória, era para isso que eles vinham", afirma João. "Entre eles, havia claramente portugueses, ouvi-os a falar entre si e houve um que abriu o casaco e exibiu a t-shirt dos 'No Name Boys'", garante um cidadão que estava na praça na altura dos desacatos e não quer ser identificado.

Para os restaurantes os danos materiais contam-se por algumas cadeiras e mesas destruídas, por terem sido arremessadas. No Coconuts, o café que fica na esquina entre o largo da Oliveira e a rua por onde entraram os desordeiros, faltam algumas cadeiras. "Felizmente estávamos fechados, é o nosso dia de folga, mesmo assim desapareceram algumas cadeiras", queixa-se. José Diogo, presidente da Associação Vimaranense de Hotelaria (AVH), diz que o levantamento dos prejuízos ainda está a ser feito, mas acredita que, além do dano reputacional para a cidade, os clientes que acabaram por ir embora sem pagar possam ter causado um rombo nas contas dos restaurantes.

A AVH, em comunicado, critica a alegada falta de vigilância policial que levou a "momentos de terror" no Centro Histórico, provocados por adeptos do clube de futebol croata. Queixa-se a associação que representa os restaurantes, bares e hotelaria que, além dos prejuízos materiais causados pelo raide, os seus associados "terão de encerrar durante esta quarta-feira".

O presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança também já reagiu aos acontecimentos, colocando a responsabilidade na falta de coordenação entre as polícias, nomeadamente com os agentes croatas que estão em Portugal. "Os adeptos deste clube croata têm esta má reputação, têm cadastro e não houve planificação. Algo falhou", acusa o autarca.

Pequeno incidente para a PSP

A PSP, contudo, classificou o acontecimento como "um pequeno incidente sem quaisquer consequências ou danos físicos ou patrimoniais, até ao momento".

João diz que, mesmo depois das desordens, "tivemos tempo de jantar e arrumar toda a esplanada e só apareceu a polícia por volta da meia-noite".

Esta manhã, ao mesmo tempo que a PSP dava uma conferência de imprensa em simultâneo com a do presidente do Município, chegava ao Centro Histórico da Cidade Berço um contingente policial com aparato. Primeiro chegaram agentes do Corpo de intervenção, equipado com bastões longos, joelheiras e caneleiras, logo seguidos de um grupo de quatro motas com duplas de agentes envergando coletes à prova de bala e armados com shotguns. "Chegaram tarde, eram precisos ontem à noite. Agora vieram passear", grita-lhes um funcionário de um restaurante à passagem.

O jogo entre Vitória Sport Clube e o Hajduk Split, a contar para a Liga Conferência Europa, acontece às 17 horas e muitos dos estabelecimentos estão a ponderar o encerramento, mesmo que ainda não tenham chegado instruções das autoridades para o fazer.

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